domingo, 16 de outubro de 2011

Editorial: que biólogo você quer ser?

Prof. Ana Paula Bossler,
Editora do Opilião

Em nosso curso de Licenciatura em Ciências Biológicas combinamos matérias pedagógicas e conteúdos da biologia. Mas estas dimensões são suficientes para compor o biólogo que queremos ser? A participação em eventos e cursos de formação diversificada parecem conferir ao estudante de biologia ferramentas para ir além. A aluna Thaiane Abrascio esteve na Feira Literária de Uberaba, que aconteceu em concomitância ao II Enbio e perguntou ao escritor Ziraldo como formar uma Professora Maluquinha. Thaiane teme receber o diploma e sentir-se despreparada para a sala de aula. A resposta do escritor você lê na página 4. A Professora Maluquinha de Ziraldo criava percursos alternativos para a aprendizagem, como fazem os programas de televisão sobre os quais falamos neste Opilião (Didática do mico?). Nesta edição temos ainda um novo rio descoberto na Amazônia e um bicho que é confundido com sujeira na praia, assuntos que deixariam a professora do Ziraldo elétrica! Não deixe de ler também a matéria sobre o Projeto Genoma (pag 2) e a entrevista com o palentólogo Ismar Carvalho. Não deixe de ver mais no Opilião impresso, peça o seu!.

Seu DNA é um lixo?

Por Naira Pithan, 6º Período.
O Projeto Genoma Humano, inciado em 1990, tinha como objetivo mapear  os genes do genoma e descrever a sequência completa de todos os nucleotídeos que formam a longa hélice de DNA e  prometia determinar quais seriam as causas possíveis  para muitas doenças genéticas. Nesta época os cientistas acreditavam que existiam cerca de 100 doenças causadas por alterações nos genes, mas 13 anos depois descobriram mais de 1400 doenças.  O projeto genoma envolveu um esforço coeltivo de pesquisa que conta com a participação de centenas de cientistas espalhados em 11 países. Os 100 mil genes estimados no início do projeto cairam para 30 mil. Os cientistas começaram a revisar o conceito de “DNA - lixo”, sequências genéticas que supostamente não eram transcritas e não possuíam funções conhecidas. Hoje o projeto reforça que esse DNA – lixo não é lixo, e constata que estas regiões entre os genes parecem estar muito ativas.

Hamza, um rio maior que o Amazonas!

Por Letícia Lemes, 6º Período

Novos programas de TV com enfoque na saúde estão causando muito reboliço devido  ao uso de abordagens singulares para atingir seus objetivos. Tanto o programa “Bem Estar” da rede Globo quanto o “E aí Doutor?” da rede Record tratam de temas do dia a dia apostando em formatos popularescos e artísticos dando demonstrações um tanto quanto incomuns. Evitando termos técnicos, como nomes de doenças, oscilam entre uma linguagem simples e  simplória. Os programas abordam temas como formato de fezes, corrimento vaginal e espinhas usando imagens que causam grande impressão.
Segundo os produtores dos programas o objetivo é expor de modo simples e didático questões vividas por toda pessoa no dia-a-dia. O problema é quando confundem didática com constrangimento. Se por um lado estes programas ousam e tentam desenvolver uma nova identidade como linguagem, por outro parecem errar na dose do que têm acrescentado aos programas.

Didática do mico



Por Letícia Lemes, 6º Período

Novos programas de TV com enfoque na saúde estão causando muito reboliço devido  ao uso de abordagens singulares para atingir seus objetivos. Tanto o programa “Bem Estar” da rede Globo quanto o “E aí Doutor?” da rede Record tratam de temas do dia a dia apostando em formatos popularescos e artísticos dando demonstrações um tanto quanto incomuns. Evitando termos técnicos, como nomes de doenças, oscilam entre uma linguagem simples e  simplória. Os programas abordam temas como formato de fezes, corrimento vaginal e espinhas usando imagens que causam grande impressão.
Segundo os produtores dos programas o objetivo é expor de modo simples e didático questões vividas por toda pessoa no dia-a-dia. O problema é quando confundem didática com constrangimento. Se por um lado estes programas ousam e tentam desenvolver uma nova identidade como linguagem, por outro parecem errar na dose do que têm acrescentado aos programas.

Bicho que parece lixo?


Por Amanda Prato, 6º Período

Ao caminhar ao longo da praia, deparamo-nos as vezes como um emaranhado de plásticos, folhas e raízes que logo interpretamos como lixo. Você já viu este lixo enterrado na faixa de areia?
Pois é, até pode ser lixo, mas também pode ser um bicho, o Diopatra, já ouviu falar?
Diopatras são animaizinhos que vivem em tubos que ficam parcialmente enterrados na areia, deixando uma parte exposta na superfície. A parte exterior desses tubos é coberta por grãos de areia, partes duras de outros animais, conchas, pedaços de plantas e qualquer outro material encontrado na areia. Se a praia recebe detritos com regularidade e em quantidade, os Diopatras acabam usando estas tranqueiras na confecção do tubo. Mas se a praia é limpinha, o tubo é feito de materiais mais naturais e fica com o aspecto da imagem que vemos ao final deste texto. A parte exposta do Diopatra serve como camuflagem, ajuda na captura de presas e detecção de predadores. Como filtradores que são, alimentam-se de algas, pequenos  invertebrados e detritos do solo.
Há cuidado parental com a prole! Os Diopatras que são parentes das minhocas terrestres são muito procurados para serem feitos de iscas e para alimentação de espécies ornamentais.
Agora que você já sabe um pouco sobre os Diopatras, quando estiver na praia preste mais atenção, quem sabe não tropeça em um? Olho vivo, biólogo, as aparências podem enganar....

Professora Maluquinha, quem quer ser?



Por Thaiane Abrascio, 6º Período
No livro de Ziraldo, Uma Professora muito Maluquinha (Editora Melhoramentos), os alunos contam a maneira como Cate, a maluquinha em questão) despertava o interesse deles pela leitura. São tantas estratégias interessantes, que podemos pensar que isso só existe mesmo na fantasia de um livro infantil, mas seria um absurdo pensarmos isso sendo nós estudantes de Licenciatura. Afinal que tipo de professores desejamos ser? Vamos continuar perpetuando estratégias que já sabemos que não dão certo?

Ziraldo esteve em Uberaba pela 8ª vez no dia 17/09 na Festa Literária, onde realizou uma tarde de autógrafos e respondeu à algumas perguntas da platéia. Colocamos a ele a seguinte questão: Será que é possível aprender a ser uma Professora muito maluquinha? E ele respondeu: "Essa pergunta é ótima. Todo médico faz estágio num hospital com todo o apoio enquanto o Professor quando se forma é jogado por ai sem assistência, não tem um amparo que o ajude a entender o seu papel. (...) Vivenciei um fato muito interessante, o ministério da Educação da Guatemala comprou um livro da Professora Maluquinha (traduzido como: Una Maestra macanuda”) para cada professor do país, e criaram também um texto intitulado “As 10 lições da Maestra Macanuda. O ensino de lá é muito quadrado, muito antiquado e o livro os ajudou a enxergar uma nova didática, a partir disso começaram a prestar mais atenção no professor”.
Por fim o autor aponta que a dificuldade de os professores criarem novas ferramentas de ensino está no medo em que temos de apostar no inusitado e livros como estes podem ajudar a romper este medo. Em breve, nos cinemas, teremos a versão da Professora Maluqinha.

Entrevista: Caçador de Fósseis

Quem é Ismar de Souza Carvalho?
Autor do livro que usamos na disciplina de paleontologia, Ismar de Sousa Carvalho fez graduação de Geologia em Coimbra, Mestrado, Doutorado e Pós Doutorado no Brasil na mesma área. Atua principalmente na pesquisa de fósseis do Cretáceo e é professor na UFRJ. Neste trecho de uma entrevista que Ismar nos concedeu ele dá suas opiniões sobre as possibilidades da paleontologia no Brasil e na UFTM, sobre política, religião, morte e sobre ciência para o público infantil


Por Thaiane Abrascio, 6 º Período
Thaiane- Em cada trabalho há um objetivo especifico (ou próximo), mas você tem algum objetivo futuro (maior) para suas pesquisas?
Ismar-Meu objetivo maior é ampliar o treinamento e a qualificação de novos alunos interessados na paleontologia. A difusão da informação produzida através de nossos estudos científicos é outra meta importante, como forma de estímulo a novos geocientistas.
Thaiane- Parece-me, e disso não tenho certeza, que o respaldo científico internacional que o Brasil tem na paleontologia ainda é ínfimo diante da riqueza fossilifera que temos. Estou certa?  Por que isso acontece?
Ismar- Respaldo é algo que construímos, e que demanda tempo e capacidade de inserção de nossos grupos de pesquisa em estudos de maior amplitude. Realizamos pesquisas extremamente relevantes no âmbito da paleontologia industrial, e que têm sido importantíssimas para a descoberta de novas jazidas petrolíferas. O problema é que muitos de nossos fósseis não possuem análogos diretos com os que têm sido estudados na Europa e nos Estados Unidos. Assim, temos de desenvolver uma paleontologia “abaixo da linha do equador”. Tarefa não muito fácil, mas bastante estimulante pela possibilidade das grandes descobertas que se vislumbram.
Thaiane- A política já foi um empecilho para seu trabalho?
Ismar-E de quem não foi, ou é?
Thaiane- E a Religião?
Ismar- Nem um pouco. Um de meus orientadores, o importante paleontólogo Giuseppe Leonardi, é teólogo de formação e atua ativamente como padre.
Thaiane- Toda vez que está com um fóssil nas mãos, está lidando com a morte. Isso mudou de alguma forma a sua concepção sobre a morte?
Ismar- Sim. Dá uma perspectiva de pouco sentido para nossa existência. A vida que já é efêmera se transforma num momento quase que perdido no tempo e no espaço. A partir dos fósseis fiquei bem mais angustiado com o sentido da própria existência.
Thaiane- O que o levou a escrever estes textos voltados para o publico infantil (Coluna Pré História, Ciência Hoje das Crianças)?
Ismar- Quando criança fui estimulado a ler, e através da leitura pude viajar por mundos inexistentes e também por aqueles reais. Durante nossa infância é que o caráter, os desejos e as possibilidades se constroem, e que têm um grande poder de transformação. Escrever para crianças é uma forma de estimular as mudanças do futuro.